quarta-feira, janeiro 31, 2007

Nós Mesmos


Entre nós alguém sente, pensa, outro escreve.
Entre nós discordamos do que sentimos, do que fazemos, e sempre um de nós será a cruz, o carma, outro a salvação completa.
De nós um será apaixonável, apaixonante, delirante, outro cotidianamente banal.
Todas as vezes que precisarmos um do outro é porque entre nós lucraremos a rodo, ganharemos, sorriremos juntos e cada qual cumprirá seu papel jornal.
Não nos odiaremos, afinal, pois temos um ao outro em cada um, somos imagem e semelhança, porém um existe na idéia outro no papel, um vive por ai outro guardado a sete chaves como segredo inviolável.
Nos defendemos, pois nos dependemos, somos irmãos de sangue e, por incrível que pareça, completamente diferentes na cama. Enquanto um ama outro trepa e trocamos de papéis, pois gostamos do que o outro faz, assim lidamos diariamente com nossas funções. Eu amores, você perdedores, você olhares, eu banalidades.
Um é poesia distraída, outro resposta exata. Um converge outro diverge. Somos os mesmos nas curvas, descidas embaladas, mas quando freiamos somos a diferença da distância de onde paramos.
Somos os mesmos, um poeta, outro concreta. Um se enerva outro se expressa. Somos nossas necessidades, nossas explicações molestas, nossas próprias irreverências discretas.
Somos, que assim seja, o sorriso obtuso da descrença, a força ampliada da beleza. A confusão mais profunda da macheza. Somos nós que insistimos em separar nós mesmos.

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