sábado, janeiro 13, 2007

Às Mulheres que Nunca Tive

Um dia após seu aniversário começou a escrever para suas ex-namoradas, ou melhor, para suas ex-mulheres, não; para seus ex-amores. Pensou, pensou e pensou mais um tanto até chegar à definitiva conclusão de que escreveria pras as mulheres que nunca teve. Nunca ninguém imaginara escrever um texto, um poema, uma crônica ou que fosse uma carta de despedida para “As Mulheres que Nunca Tive”. E assim foi. Começou:

Dedico esta singela homenagem
às mulheres que nunca tiveram
o prazer do meu gozo.

Releu e sentiu-se um pouco arrogante, não queria parecer assim. Refletiu, pensou, apagou tudo e recomeçou:

De hoje em diante serei sempre seu,
sempre seu patrimônio,
seu bedel, seu sonho impossível.

Acho que a última frase poderia ser ambígua demais, queria algo certeiro, poético, metafísico talvez. Pensou em mudar o tema, mas achava a idéia boa, só não sabia por onde começar a carta, o texto, o poema, a crônica. Se esforçou mais um pouco, agora seria sério, fixou-se, concentrou-se somente ali:

Fiz do meu passado
Da tua inexistência
Meu mais profundo desejo
Minha loucura sem nexo

Frio, mecânico, quase matemático, metálico. Loucura sem nexo é quase abominável, é tão ruim que não chega a ser clichê, tem que melhorar muito pra isso. Ficou ensandecido. Assim, sem esperar nada, bateu-lhe uma solidão insólita, um frio discrepante, como se não houvesse a possibilidade de voltar atrás, como se realmente, pela primeira vez, sentisse o vazio do inevitável, da fatalidade. Olhou a vida passando nas páginas em branco, a folha de sulfite leve como uma revoada e sem mais tentou fincá-la à mesa, como segurando o último suspiro e começou a escrever garranchos:

Sou a tristeza do tempo roncando de fome,
Sou o perdido de amor gritando seu nome,
Sou o devaneio do louco à espera de um enxame.
E enquanto houver tempo de te conhecer
Serei o guerreiro no fracasso da luta sem chance.
E hoje, sem mais esperar por ti,
Retiro todas as chagas da minha angústia
Relembrando tudo aquilo que não fiz por ti.

Apoiou-se ao peitoral da janela em soluços, enquanto olhava as luzes da cidade imaginando quem seria ela. Melhor assim. Completou uma dose de Salineiras, ascendeu um cigarrro sentindo-se poeta e teve vontade de chorar a sensação de vazio. Foi até a mesa, abriu um dos presentes e comeu seu último alfajor argentino. Agora, completo, foi dormir.

2 comentários:

Lígia Moreli disse...

Divulgue logo esse espaço, Darko, é muito bom!

Anônimo disse...

Oi Lígia
Estou pensando mesmo nisso, ainda estou um pouco inseguro pois também estou trabalhando em cima de outro blog, referente ao meu grupo de teatro, o que me deixa um tanto inseguro ainda....mas estou criando coragem pra isso. Coragem de poeta vadio é cu de rola, como diria nosso companheiro bruno...hahaha
valeu a força linda.
E outra coisa, se tu parar de cantar vai ter carreata, passeata da classe operária mais violenta, as bandeiras serão queimadas em forma de protesto, os balconistas irão nos servir de costas e em algum lugar algum cachorro vai uivar de dor!

Se cuida

beijos

darko