quarta-feira, janeiro 10, 2007

Deslocando o Eixo da Terra

Desde que eu era pequeno, tinha lá meus nove anos (Até pouquíssimo tempo, porque não? Isto é o que acontece com a nossa memória depois de uma certa idade, a infância se aproxima), partia a sonhar em mundos fantásticos. Criatividade natural, logo depois ajudada por Monteiro Lobato, Incrível Fábrica de Chocolates, Mágico de Oz etc. Em seguida vieram outros, tão bons e encantadores, mas já não era meu universo. Imaginava morar em cavernas, em ilhas, num enorme depósito de balas. Pensava como seria estar sozinho numa cidade deserta, os mercados abertos com chocolates e frutas a vontade, guaranás. Fantasia de criança.
Depois de adulto pensei em comprar uma ilha, embora mesmo sem poder, pensei. Pensei em ter comigo neste lugar os amigos, nenhum parente, somente minha companheira, quiçá meu filho. Amigos poderiam vir de todo o mundo, cada qual com sua cultura, sua culinária, seu instrumento popular. Teríamos o direito de ir e vir, cantaríamos juntos ou sós, faríamos bebedeiras homéricas sem pudor. Neste lugar faríamos escolhas, votaríamos nossas regras, nosso hino, guardaríamos nossas armas, faríamos uma constituição, fundaríamos um país. Para isso esse lugar deveria estar num terreno de ninguém, tomaríamos posse, daríamos um nome. Passaríamos a vida crendo em nós mesmo, e evitaríamos a guerra, contudo, daríamos a vida por este lugar, também lutaríamos.
Como se por mágica, como se por piscar de olhos, alguma coisa em mim novamente sonhou, novamente imaginou possibilidades, liberdades, força, criou infinitamente sem causa, sem efeito, sem a pretensão adulta de acertar. Estou agora imaginando um universo, nele com dez pessoas fundaríamos um país, nele olharíamos em volta e veríamos a imensidão profunda do horizonte infinito. O mar nos rodearia, as gaivotas fariam descansos e repousos de longas viagens, barcos pediriam permissão; gritando ao longe: - Posso chegar? De cá responderíamos: - Quem vem lá? – Eu! – Tens permissão da embaixada Sr Eu? Tens passaporte com visto Sr Eu? – Sim! Toda a documentação está aqui, carimbada, só preciso de sua autorização de entrada! E aos berros ficaríamos rocos, mas autônomos, independentes, livres. Escolheríamos uma moeda, teríamos uma rádio, duas, faríamos uma terceira rádio pirata pra nos interpelarmos sobre nossas próprias certezas. E descansaríamos, para no sábado jogarmos futebol, inventaríamos jogadores falsos, bonecos, mudaríamos o jogo ao nosso estilo, tiraríamos as traves. O mar é o limite.
Hoje acordei sonhando que era verdade! Descobri nos meus sonhos O Principado de Sealand, a minha ilha, o meu sonho, a fantasia de adulto. Sealand fica a 51 graus, 53 min, 40 seg a Norte e 1 grau, 28 min, 57 seg a Leste, tem 550 metros quadrados. Governado por Michael Bates, tem brasão, hino, bandeira e população flutuante entre 5 a 20 pessoas. Flutuante, literalmente. O menor país do mundo existe. Onde antes base militar, hoje é país, um antigo sonho.

Quando vi Sealand fiquei sonhando com toda proximidade que me cabe. Quando damos de inventar, inventamos sonhos, inventamos um acordo com nós mesmo, inventamos o inevitável desejo de ter, ser, conseguir. Inventamos nossas fábricas de chocolate como Michael Bates inventou Sealand, uma fantasia para mim, uma realidade para ele. Hoje é a outra vida de lá interferindo na de cá! É meu maior depósito de balas. Quando invento algo tento ser assim, quando crio uma história tento ser assim, é uma vontade absoluta de refazer inventivamente, fantasiosamente, misteriosamente conquistável. Como um Visconde de Sabugosa Nieztchiniano, um Cazuza Cabloco Querendo ser Inglês, uma Joana D´arc Anticemita, um Nostradamus Yung, Ishing Vestindo Panamá, a confusão mais profunda da humanidade num sonho, num ponto fixo de 550 metros quadrados. Deslocando completamente o eixo da terra.
Se alguém tem interesse em conhecer mais sobre a história do Principado de Sealand, veja no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sealand
Bons sonhos, até a próxima!

3 comentários:

Unknown disse...

Perfeito!

Anônimo disse...

menino com os olhos ,quase que rosados ,pra enorme bunda que é o mundo....adoro os seus passeios,simples como uma imagem microscópica,gostosinho que nem uma mão quentinha de carinho,só q dá um chacolhão sim,tipo uma vibração nos olhos...meus.
gostei

Anônimo disse...

anônima sou eu viu,beatriz....é q não tenho uma page